Aos 20 de novembro do ano 1695 tombava Zumbi dos Palmares, o grande ícone da resistência do povo negro e da luta contra escravidão.
Nascido, aproximadamente, quarenta anos antes em um dos mocambos do quilombo de Palmares, o pequeno menino foi raptado no mesmo ano do seu nascimento pelo chefe da tropa de Brás da Rocha Cardoso e levado para a freguesia do Porto Calvo uma pequena vila do Recife sendo entregue ao Padre Antonio Melo para que fosse criado.
Poderíamos perguntar: por que o Padre Melo não teve uma postura mais contundente, contrária à escravidão? Por que a Igreja, árdua defensora dos indígenas não assumiu, naquela época, com o mesmo zelo, a luta contra esse odioso crime? Podemos aceitar a premissa de que a escravidão não se constituía uma opção dentro do Brasil, mas um imperativo do sistema implantado no país com a colonização portuguesa? Não podemos negar que a escravidão era uma realidade profundamente arraigada e, muito poucas, eram as vozes que se levantavam para combatê-la; entretanto, algumas vozes proféticas ecoam até hoje.
Qual teria sido o destino daquele menino franzino caso tivesse caído nas mãos de um mero senhor de escravos? Seria Zumbi, o mesmo líder se sua inteligência e capacidade não fossem aguçadas? Podemos compartilhar da visão de que a formação que ele recebeu do pároco foi irrelevante para o desempenho de sua missão?
Neste momento desafiador em que nos perguntamos como viver o mandato evangelizador do Mestre Jesus, vale a pena sublinhar o papel fundamental do pároco de Porto Calvo, Padre Antonio Melo, na educação integral daquele menino batizado com o nome de Francisco, que além de educá-lo na fé católica, iniciando-o no estudo das Sagradas Escrituras, lhe ensinou a ler e escrever, oferecendo-lhe ainda, noções de latim.
Atrevo-me a afirmar que a atitude daquele pároco de aldeia, embora tímida à nossa sensibilidade contemporânea, teve uma grandiosa força profética. Ainda hoje, tendo se passado trezentos anos, tal atitude consegue ser um testemunho relevante para aqueles que acreditam que a reparação desse crime de lesa humanidade passa necessariamente por ações afirmativas.
Dom Zanoni Demettino (artigo de publicado no site Catolicanet)
Para ler na íntegra acesse: http://catolicanet.com/?system=news&action=read&id=50378&eid=301